Até ultimamente, eram os Palestinos os únicos expostos aos percalços do bloqueio da faixa de Gaza. Agora, porém, estes já se fazem sentir também em Israel.
O Egito recusou-se a satisfazer o pedido israelense para proibir aos barcos iranianos a passagem pelo canal de Suez. A informação foi divulgada pelo canal de televisão “Al-Jazeera”, que alegou uma fonte anônima nas forças de segurança egípcias. Trata-se de três embarcações levando ajuda humanitária para a população de Gaza, a qual se encontra isolada do resto do mundo por Israel desde o outono de 2007. A Sociedade do Crescente Vermelho iraniana havia anunciado seu envio depois de que a Marinha de Guerra israelense atacou na noite de 30 para 31 de maio o comboio marítimo denominado “Flotilha da Liberdade”, a qual tentou romper o bloqueio marítimo de Gaza. Na ocasião foram mortas 9 pessoas e 33 receberam ferimentos. Aquela ação gerou indignação e protestos no mundo.
Agora, uma vez que o Irã expediu seus navios com destino a Gaza, o Governo israelense se defronta com uma perspetiva de um novo enfrentamento junto do litoral palestino. Desta vez, esperava poder resolver o problema com apoio do Cairo. Todavia, enganou-se. Segundo o “Al-Jazeera”, o lado egípcio notificou Telavive de que a reivindicação israelense era inadmissível por constituir uma intromissão nos seus assuntos internos. Acentuou que o Egito continua apegado aos acordos internacionais prevendo livre passagem pelo canal de Suez de todos os navios, excetuando os pertencentes aos países com que ele se encontra em pé de guerra.
Deu a entender, assim, que Cairo não tinha fundamento nem intenção de causar estorvos aos navios iranianos, especialmente para assim ganhar as boas graças de Israel. Juntamente com outros países, o Egito condenou o ataque israelense à “Flotilha da Liberdade”. E até foi mais longe. Há uns dias, proibiu aos aviões israelenses usar o corredor aéreo sobre a cidade de Taba, no Sinai. Consequentemente, as aeronaves civis de Israel não poderão doravante realizar a manobra de aterrissagem no aeroporto de Eilat através do território egípcio.
Em um sentido mais lato, poder-se-ia falar de não-aceitação, pelo Cairo, da política israelense baseada no recurso à força, a qual reverte em uns efeitos negativos para o próprio Israel – pensa a orientalista russa Irina Zviaghelskaia, do Instituto de Economia Internacional e Relações Internacionais junto à Academia de Ciências da Rússia. E continua:
O bloqueio da faixa de Gaza por Israel sempre foi contraproducente. E hoje, pelo que consta, vai lhe causando um grande desconforto. Em todo caso, muito mais do que antes. Como se compreenderá, Israel está interessado em que armas ou materiais de uso dual não possam entrar nesse território. Isso, todavia, pode ser verificado mediante um controle fronteiriço convencional. E não se deverá decidir-se por umas ações que produzam vítimas humanas e façam com que a comunidade internacional condene Israel por um recurso desproporcional à força militar.
Isso, porém, é apenas um lado da questão. Além disso, o continuado bloqueio passa a complicar cada vez mais, inclusive, as relações com os países com que Israel mantém relações diplomáticas. Disso, o Egito é um exemplo.
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